sábado, 28 de noviembre de 2009

CEGUEIRA SELECTIVA


Hoje despertei como todos os dias, agradecendo ao destino, pela vida que me brindou , tanto a mim como aos meus filhos e a alguns amigos, por viver num continente onde prima a igualdade social, sanitária,laboral,religiosa e social.
Onde a vida nos é facilitada pelas tecnologias, que nos agilizam laboralmente,nos comunicamos com seres queridos que se encontram a miles de km de distância,onde o saber e o conhecimento entram em tempo real nos nossos cérebros ,onde a liberdade de expressao está vigente,onde as comunicaçoes rodoviárias,ferroviárias e aéreas sao fluidas e a preços acessíveis,onde qualquer desamparado encontra sempre um prato de sopa,uma cama quente e um tecto que o abriga da intempérie.
Vivemos num Éden onde a riqueza e o bem estar tem um preço, e se paramos a pensar só um pouco,chegaríamos á conclusao, que o que temos é a custa de outros povos que teem a verdadeira riqueza,que usufruímos nós em decrimento dos mesmos.
Entao pergunto-me,porque é que nos queixamos?.
Talvez quisessemos viver num continente,que nao sabem o que é a igualdade social,sanitária,laboral,religiosa e social.Nao sabem o que sao as tecnologias, que lhes facilitem laboralmente e nos comunicamos com seres queridos que se encontram a miles de km de distância,onde o saber e o conhecimento nao entram em tempo real,ou jamais entrarao nos seus cérebros ,onde a liberdade de expressao nao existe,onde as comunicaçoes rodoviárias,ferroviárias e aéreas nao sao fluidas nem a preços acessíveis,onde a maior parte dos Seres Humanos nao encontra um prato de sopa,nem uma cama quente e um tecto que os abrigue da intempérie.
É claro que eu nao sou alheio a esta situaçao e a minha luta sempre se centrou no bem estar de todos os Seres Humanos, no justo valor na hora de utilizarmos ditas riquezas, que nao nos pertencem,mas que utilizamos em benefício próprio.
Sempre me considerei uma pessoa coerente,cabeça dura e justa,conseguindo sempre o que desejei a cambio de um duro,honesto e árduo trabalho.
Com isto tudo o quero em realidade expressar e condenar,sem animo de ofender a quem quer que seja, de que estou de acordo com os movimentos de protecçao ao mal trato animal,á caça indiscriminada de algumas espécies,etc,mas também creio que esses esforços se deveriam centrar em uma luta mais justa e menos hipócrita,que nao levarao a nada e para evitar esses esforços em vao,eu creio que estas seríam as medidas mais adequadas.
1º-Deveríamos em primeiro lugar distribuir a riqueza desmesurada que algumas civilizaçoes e uns quantos sem vergonha usufruíem e despilfarram fazendo alarde do mesmo.
2º-Ajudando os povos menos agraciados e que em realidade sao os que teem a posse da riqueza,dando-lhes educaçao, e sensibilazando que o único que temos como Lar,é o planeta Terra e que temos que conviver com outras espécies que sao cruciais para o bem estar de todos,nao dando armas,alentando aos mesmos á violência gratuida com o intento de adquirir o controle das ditas riquezas para usufruto económico de alguns e social para os mais agraciados que somos nós.
3º-Dando a cada povo o justo valor das riquezas que adquirimos,que sao sua propriedade,para o seu desenvolvimento económico e cultural,evitando assim a corrupçao,a violaçao dos seus Dreitos como Humanos,á imigraçao massiva que muitas vezes nao é mais que um passaporte para a morte, para alguns,ao Terrorismo e á Pirateria,que nao sao mais que um reflexo da revolta á pobreza e bem estar social,a que estao submetidos.
4º-Com estas medidas,creio que os povos seríam mais felizes e as outras espécies também e poderíamos conviver e desfrutar deste Éden que em realidade existe,pois está ao nosso redor,só que nao o vemos,porque temos CEGUEIRA SELECTIVA.
Nao é uma utopia,poderia ser uma realidade.
Pensem bem.

Dza_hib

domingo, 22 de noviembre de 2009

O MEU TESTAMENTO


Hoje faço 51 anos,já tenho meio século.
Até á data vivi intensamente a minha vida,fui feliz e infeliz,fui bom e mau,tive amores e desamores.
Mas para mim pesam mais os momentos felizes,a minha bondade,e os meus amores.
A partir de agora nao sei o que se me vai deparar no futuro, tenho e nao tenho medo, ainda que terei que enfrentá-lo com dignidade como sempre o fiz .
Tenho sonhos por realizar, e gostaria que a maioría deles se tornassem realidade, antes que a morte me dê o bilhete de volta.
No caso de não ser assim,e ela chegue primeiro,estas são as minhas últimas Vontades:
Que os meus filhos continúem com a minha luta,contra a desigualdade,a descriminação e o respeito pelo Planeta.
Não quero sofrer, e para isso peço que me seja aplicada a Eutanásia e em casa, que me acompanhem na minha ultima aventura,os meus filhos,mulher, e os amigos de verdade que o queiram.
Que seja cremado e as cinzas espalhadas no alto Gestoso,no Gerês, para estar sempre perto das minhas duas familias,a Portuguesa e a Espanhola e dos meus amigos.
Essa será a minha última morada,estarei em paz com o silêncio, quebrado algumas vezes,por o cantar de um pássaro,ou o restolhar dos passos de um Lobo,Raposa ou Corço,integrado no que sempre defendi,A NATUREZA.
Esta é uma mensajem a qualquer Governo de qualquer Estado.
A vida é minha e com ela faço o que quero e se cumpri a missão que me estava destinada, tenho o direito de ir como deseje.

Dza_hib

martes, 17 de noviembre de 2009

AMIZADE OU CRUELDADE


Chamava-se António Rui Garrido,digo chamava-se porque actualmente nada sei sobre ele,se está vivo,se foi para o Canadá como tinha previsto,mas isso não tem importancia,porque ele se cruzou no meu caminho um dia,e estará sempre presente na minha memória,enquanto tenha um resquício de vida.
Era do quadro da Empresa Ilidio Monteiro, como eu, só que ele era Administrativo e eu Técnico.
Aterrou um dia,sei que era verão porque estávamos fora no Campo,tronco nus e de calções, e seriam as 23horas, esperávamos o Correio que eram portadores os expatriados que vinham de Portugal para a Líbia.Eu tinha-me recusado a voltar ao Aeroporto, por pânico a ter de encarar-me com a um representante do diabo com boina vermelha e uniforme caqui.
Já o conhecia da empresa, porque nos cruzávamos muitas vezes na hora do café,e no almoço.Quando o vi,reparei que ele tinha um olhar perdido e inquieto como se pergunta-se a si mesmo,"onde estou eu?onde me meti?".
Também poderia dizer que eu tivera a mesma expressao quando cheguei, mas estaria a mentir, porque eu nao conhecia o medo,mas sim uma vontade irresístivel de aventuras, aprender e conhecer,ainda que sim era cauto nas minhas atitudes para com os autóctenes, pois já tinha tido um pequeno desgosto, que está descrito em "Há Miradas que Matam".
Eu fazia parte de um grupo de pessoas,que se movia por interesses culturais,musicais e protecção.
Um era o finado Meca Alegria,que era administrativo e um bom amigo,ex-jornalista do Diário de Notícias,Comunista ferranho que nao tinha qualquer afinidade política comigo pois eu era Pró-Sá Carneiro, António Flores que era manobrador de máquinas, Carvalho que era mecânico e conhecido por nós como o Torres Vedras, por ser natural dali ,o Unhas,nunca soube o nome dele, mas era peculiar pois tinha umas unhas polivalentes nos dois dedos mindinhos, e o ultimo era Lamin, negro natural do Ghana, Muçulmano e que compartia casa comigo e com o Flores.Com esta descriçao se perguntarao que nos unia?.Quiçás,unia-nos o Status Social e Cultural,gostos Musicais e instinto de Protecçao.
Como sempre, nos juntávamos depois do trabalho,para conversar,tocar guitarra, pois tinhamos um grupo musical,que não tinha nome,mas sim tinhamos uma canção com letra e música,que cada vez que a recordo só me apetece morrer de vergonha.Naquele dia ali estávamos nós esperando os expatriados.
Garrido com a sua expressao de "Deus saca-me de aqui" ,o primeiro que fez foi procurar-me entre os 200 portuguses que ali viviam no Campo,vendo a cara de assustado que tinha,aproximei-me dele desejando-lhe as boas vindas e apresentando os meus amigos, que também seriam os dele, a partir daquele instante.
Depois da cerimónia de entrega do correio, que era um espetáculo incrivel, acompanhamos o Garrido na Ceia, que era um costume para os expatriados que chegavam de noite a Sebha.
Durante a ceia,Garrido começou a por em evidência a sua igenuidade com perguntas inconcebíveis para uma pessoa com o minimo grau de cultura,nao só pelo cargo que ía ocupar,mas também pelos estudos que presumia ter.Nós movidos pela rutina e o ócio decidimos explorar esta pequena mina em bruto e divertir-nos um pouco.
Garrido era um indivíduo peculiar era de baixa estatura, mediria o metro e ciquenta e algo,tinha um defeito na vista,pois nao tinha a mirada simétrica, e Meca dizia que ele seria um perigo com uma metralhadora .
Tinha a particularidade de apropiar-se das viaturas,quando se pedia uma emprestado á empresa para passear,pois só nos estavam destinados para o trabalho.Um certo dia depois de nos haverem cedido uma, ele fez-se com o mando dela,e resolveu meter-se pelo deserto a dentro,(ver foto em "A PALAVRA AMIGO"),sentindo-se na pele de Lawrence da Arábia,e advertindo-o das areias movediças, pedimos-lhe que voltasse aos caminhos existentes.Fazendo caso omisso ás petiçoes,acabou por meter o carro numa zona de areias movediças.Enquanto ele tentava sair com a viatura, de onde a tinha metido,que cada vez enterrava-se mais, eu o Meca e o Flores decidimos ir ao nosso Estaleiro, que estava a uns escassos 8 Km a Oeste de onde estávamos, para trazer uma máquina para retirar o carro,abondonando ali o inteligente sem advertir do perigo dos cães selvagens que deambulavam pelo deserto.Lá fomos, e depois de duas horas de caminhada difícil que é andar sobre areia, chegámos ao destino, enchemos o cantil que levava sempre comigo de água fresca,o Flores pegou na máquina e voltámos os três, como três belos príncipes ao resgate da bela donzela perdida no deserto.Qual foi o nosso espanto quando ao chegar nao dissipámos a figura de Garrido, por lado nenhum e ao aproximar-nos da viatura vemos um vulto de um chapéu tipo cowboy sobressaindo do vidro traseiro do carro. Imaginámos logo o que havia sucedido e nao podendo evitar desatámos os três ás gargalhadas,e como seria evidente, a caricata situação já nos serviu para as tertúlias e ser motivo de risos, imaginando como haveria sido o encontro de Garrido com os cães.
Outra vez, estando eu presente, ele acompanhava os doentes do campo ao Tamin, que era o Hospital dos expatriados, assegurando que o seu inglês era bom e fluído, e á pergunta do médico que era Polaco, do que padecíamos, que era uma constipaçao, ele sem medir diz-lhe num inglês claro o seguinte:"My mans are constipation",eu absorto com o que havia escutado disse-lhe "olha lá! sabes o que estás a dizer? que estamos com diarreia!" e expliquei-lhe que constipaçao era "cold" e diarreia "constipation".É claro essa noite e as seguintes foi outro motivo para nos rirmos.
Mas para nós Garrido atingiu o auge do caricaturismo no Aeroporto de Sebha.
Lamin, que era o chófer do minibus que fazia o transporte do Campo a diversos destinos, dos expatriados e não expatriados, ou seja de todos os trabalhadores, um dia, nos advertiu que deveríamos assistir a um “check in” de Garrido no Aeroporto.O “check in” dos bilhetes de avião na Líbia era um espétaculo digno de se ver, porque ao principio não havia ninguém nos balcões das diversas Linhas Aéreas que faziam serviço tanto Nacional como Internacional, a não ser alguns ingénuos Europeus,que faziam bicha para tomar vez, para serem os primeiros em ser antendidos assim que abriam o serviço.Mas no momento em que abriam , em segundos o balcão era assaltado por dezenas de indivíduos de todas as raças e países tanto africanos como asáticos empurrando-se e atropelando-se uns a outros,gritando, numa anarquia completa, onde persistia a lei do mais forte.Era algo incrível e digno de ver.
Então tomámos a decisão, e fomos todos, estava eu, Meca, Flores, o Torres Vedras e o Unhas além de Lamin pela sua condição de chofer, e Garrido encontrava-se em primeira linha,pegado ao balcão, com umas jeans e camisa branca e o seu chapéu de cowboy, que mal aflorava do mesmo.Nós encontravamo-nos pegados á parede esperando que abri-se o serviço do Check In, conversando ou dizendo estupidezes, isso sim que não me recordo.
De repente vê-se o empregado do balcão sair de uma porta de serviço do Aeroporto e dirigir-se ao seu lugar de árduo trabalho,digo árduo, porque em algum momento estando eu presente, tinha assistido aos empregados, abandonarem o posto ,por não aguentarem a pressão das dezenas de indivíduos de braços estendidos, quase esfregando os bilhetes de avião na cara e gritando,“Assma,Assma,Ana,Ana”.
Aquele dia a diferença, era que estava Garrido, e quando o empregado sai pela porta,uma avalanche de indivíduos,atirou-se ao balcão,empurrando o pobre Garrido contra o mesmo,engulindo-o,por completo, e segundos depois regurgitando-o, e elevando-o no ar por cima das cabeças e por inércia aquele pequeno Corpo começou a moverse no sentido contrário á pressão da avalanche como se de um balão se tratasse, até colocar-se atrás de todo.Quando termina, Garrido já com os pés assentes no chão,olha para nós,com o chapéu torcido e o cordel cruzando-lhe pela cara entre os olhos, diz-nos:
“Estão ver pá! Estes tipos são uns autênticos selvagens.Assim não se pode trabalhar.De que se estão a rir?Queria-vos ver aquí,pá”.
Sim nós riamo-nos porque a situação era caricata, e por ele ser assim de cabeçudo, pois todos sabiamos que aquela situação se podia resolver nos escritorios da Libian Airlines,quando se levantavam os bilhetes e bastava um café ou uma cassete de Bob Marley,ou Peter Tosh para facilitar isso.
A Garrido passávamos-lhe factura pelas suas actitudes,por ser egoísta,cabeçudo,egocentrico,por falta de caridade e respeito.
No correio que recebíamos ás vezes as familias enviavam-nos um caque, recém feito para amenizar-nos a estadia, pois esta era dura e difícil de aguentar, e nós compartíamos esses pequenos detalles familiares entre o grupo de amigos, excepto Garrido que os escondia para seu deleite em solitário, infrigindo um dos mandamentos veniais, que era o da Gula.Isso sim compartia o que nós aportávamos,mastigando como um pequeno roedor, devorando tudo como se fosse uma Marabunta.
Nós comentávamos o feio que era a sua actitude e as suas maneiras, sem o mínimo de respeito por quem compartia com ele os seus escassos doces que com carinho e dificuldade,por arranjarem um portador que se encargasse de transportar até nós um pequeno volume,com essas preciosas delicias.
Um dia resolvemos dar-lhe um lição,que sem querer foi-se do nosso controle.Tínhamos nos escritorios umas maletas de primeiros auxílios,e dentro havia umas tabletes de chocolate para a prisão de ventre,e resolvemos despojálas do envoltório para dessimular que era chocolate real,e pusémos em cima da mesa para que quando chegasse Garrido fosse por eles.
Assim sucedeu,Garrido entrou em minha casa,(era onde nos juntávamos todos os dias) e bradou:
“CHOCOLATE? Ó pá, eu também quero.”.A nossa resposta não se fez esperar dizendo-lhe:
“Come á vontade!”
“Estás como em tua casa!”
“O que é nosso é teu!”. Etc
Garrido movido pela gula começou a comer os quatro quadradinhos que tinhamos espalhado sobre a mesa, e nós olhávamos uns para os outros mostrando satisfação,por termos conseguido o objectivo,enquanto Garrido mastigava os chocolates como se fosse um Esquilo.
No dia seguinte o Sr. Garrido não aparece no trabalho,preocupados,á hora do almoço fomos saber o que lhe tinha passado.Estava vivo,mas debilitado.
Garrido aprendeu a lição,porque nos ultimos meses que esteve ali,cada vez que recebia algo de comer de Portugal,compartia conosco.
Hoje, aquí sentado na mesa da cozinha de minha casa,penso nesses momentos com uma grande nostalgia.Que será feito de Garrido,do Flores,de Lamin,do Unhas e do Torres Vedras?.Do Meca Alegria sei que morreu há uns 20 anos com um Cancro de pulmões.
Tenho muitas saudades deles,por o que compartimos e como compartimos, como autênticos irmãos independentemente da cor política,racial ou religiosa.Éramos uma família.
Sou feliz por os ter conhecido.
E também sei que fomos cruéis com Garrido,mas também fomos amigos dele.

lunes, 16 de noviembre de 2009

CRESCI QUANDO NASCI


Estando eu, uma tarde no meu Edén, sentado no prado que sempre visito, e acompanhado pela Paz que me dava Felicidade, não me dei conta de que se aproximava uma bela Raposa, que parando uns instantes e com a vista pousada em mim, como se esperasse uma reacção violenta e agressiva da minha parte, descobre atónita que eu simplesmente sorria-lhe.Então em tom afável saudei-a:
“Olá boa tarde sra. Raposa”
Ela incrédula com a minha reacção respondeu á saudação;
“Ola boas tardes”, e continuando diz me,”Quem é o Sr.? Já o tinha visto anteriormente, mas nunca imaginaria que me dirigi-se a palavra, aliás sempre pensei que apanharia um pau para me atirar. Admirado por tal juízo de valores á minha pessoa, já que ela me havia visto anteriormente e eu também já a tinha visto ao fundo do prado,perguntei-lhe.
“Porquê pensa assim de mim? Pois jamais lhe dei motivos para tal!
Então ela lentamente aproximou-se e tímidamente sentou-se a uns escassos metros de onde estava eu, e respondeu:
“Porque você é Humano, e os Humanos teem dificuldade em aceitar-nos aos que não somos da vossa espécie, e não querem partilhar este belo jardim que é o Planeta Terra.”
“Olhe” continuou ela “Não sei se você sabe, mas nós e vocês saímos do mesmo sitio, só que vocês tiveram oportunidades diferentes das nossas, que os fizeram como são agora. Mas não se esqueça que já andaram a quatro patas e tiveram rabo como o resto das espécies que habitam este pequeño e frágil Edén. Digo pequeño e frágil porque vocês estão a dar cabo dele.”
Eu fiquei atónito com o que me dizia, e tinha razão, era verdade, que nós os Humanos estávamos a destruir com as nossas atitudes este frágil Edén. Recompodo-me do que havia escutado, ripostei:
“É verdade Sra. Raposa, tem toda a razão.Mas… estamos a tentar remediar isso, mudando determinados hábitos da nossa vida quotidiana.Aliás isso está a ser resolvido a nível Internacional, pelos governos das Nações existentes”
Ela esboçou um sorriso e respondeu-me com um sarcásmo que me deixou perplexo:
“Sim.Os governos.Ha ha ha ha.As Nações.Deixe-me rir.Isso tem de partir de cada um de vocês independentemente dos governos.Olhe! vou-lhe explicar.
Se cada um de vocês tivesse um pouquito mais de respeito pelo que há ao redor,já os governos se preocupariam com outras coisas, como dar bem estar Social a todos os da vossa espécie e dividindo a riqueza que está em mãos de quatro ricalhaços que se riem de vocês.E agora uma pregunta! porque caçais se não teem necessidade disso, pois que para comer, vocês teem supermercados imensos e cheios de comida, e granjas que as fornecem.Porque querem as nossas peles se não necessitam delas para vos proteger do frio?”
Fiquei encavacado e não sabia como responder-lhe, pois qualquer coisa que díssesse poderia provocar reacções diversas e adversas.Mas enchendo-me de corajem balbuciei:
“Tem toda a razão no seu razonamento.Olhe! eu creio que os humanos ao final não estão tão desenvolvidos com pensam.No meu ponto de vista eles ainda estão no estado primitivo emocionalmente e continuam a ter medo,porque não cresceram.Ainda que é moda fazerem-se fotografias com animais que estão em catividade,para alardearem o quanto amam e respeitam o que os rodeia, eles jámais ousariam falar consigo,porque não poderiam conceber que uma Raposa ou um Lobo ou uma Aranha pudesse comunicar com eles, e o primeiro que fariam era sair correndo cagados de medo, e depois pegariam numa arma e organizariam batidas.”
A Raposa fitou-me e fixou os seus pequenos malandros olhos nos meus e perguntou:
“Mas você não saíu a correr em pânico!Porquê???”
Eu sem mover o olhar ,suavemente respondi-lhe:
“Porque eu ao final não sou nada, comparado com a grandeza que me rodeia, e não tenho medo.E sabe porquê?
Porque cresci, quando nasci.”

Ela baixou os olhos sorriu, preparando-se para retirar, quando lhe perguntei:
“Posso fazer-lhe uma fotografia, para recordar este agradavel momento?”
Ela assentiu afirmativamente e sorrindo fez uma pose e depois de a fotografar, ágilmente escorreu-se por entre os caminhos de um pinhal ali existente.

sábado, 14 de noviembre de 2009

O RIO LIMA


Foste transporte e meio de comunicação
Foste também fábrica de pão
Foste alimento de prados e parreiras
De gado e de gentes sem maneiras
Foste fronteira
De exércitos sem eira nem beira
Foste correio de amores e paixão
E do remetente foste a sua perdição

Ja nao és transporte nem meio de comunicação
Nem sequer fábrica de pão
És alimento de prados e parreiras
De gado e de gentes com maneiras
Ja não és fronteira
De exércitos sem eira nem beira
Mas és correio de amores e paixão
E do remetente és a sua perdição

HÁ MIRADAS QUE MATAM


Sou um Ser Humano, que sempre desde miúdo, gostei de olhar para tras para poder entender onde estava, e tomar decisões nas direcções a tomar.Ainda hoje sou assim,daí que os mapas e a orientação são o meu forte e utilizo esse dom que tenho, na vida real.Olho o passado,analizo o presente, e tomo as decisões para o futuro.Mas também fascina-me olhar o passado , e relembrar os bons e maus momentos com nostalgia, e é curioso que os maus momentos se transformão em bons momentos. Hoje justamente e agora está-me a suceder isso.
Deveria ser Agosto talvez, pois estava trajeado com uma Balalaica cor creme, mas de calção curto e meias altas,(deveria de estar ridículo) e havia-me acercado ao Aeroporto de Sebha,a esperar compatriotas meus, que vinham de Tripolis,recém chegados de Portugal e com destino ali.
Encontrava-me no bar do Aeroporto, que era uma amplia sala, com 6 ou 7 mesas situado á esquerda da entrada principal e que dava acesso á sala de espera.O balcão ficava de frente á entrada, e aí estava eu encostado a tomar o meu “Kahua arabía”,um café Árabe, fumando um cigarro da Marca “Atlass”, que eram os cigarros que fumava mais parecidos aos Europeus tipo Virginia.
Olhava ao redor e ía apreciando e analizando o que via, fazendo as minhas conjecturas, algo que sempre fiz e faço hoje em dia, tentando sempre encontrar uma situação fora do normal, para depois poder utilizar como tema de conversa, nas tertulias que fazia e faço com os meus amigos.
Havia na sala, além do empregado que estava por detrás do balcão, grupos de pessoas, algumas do Chad, que esperavam o vôo que vinha de Djamena, outras Libias, e alguns Sudaneses,chegando a esta conclusão pelas vestes que tinham cada um, pois se reconheciam e diferenciavam perfeitamente.Havia também uma mulher de origem Caucásico de vestido largo, por debaixo dos joelhos e cabeça coberta com um lenço, sentada numa mesa.
A um determinado momento ela levantou-se, aproximou-se do balcão tinha uns olhos azuis intensos e rasgos faciais perfeitos, e pediu uma Mirinda,que é o mesmo que uma Fanta,dando-me conta que era de um País do Leste, pela pronuncia do Árabe que ela exibiu, ao pedir a bebida, enguanto me deitava pequenas e furtivas olhadas.Pegou na bebida e retirando-se para a mesa que ocupava, sentando-se deliberadamente de frente a mim.Agradou-me as suas pequenas, e rápidas olhadelas, e o seu conjunto físico, e vendo que ela se sentava de frente a mim, não pude evitar de contemplar e retribuir aquelas escorrediças olhadas azuis turquesa,não dando atenção ao que se passava ao meu redor perdendo por completo o meu instinto de observador em posição de defesa e brotando de mim o instinto de depredador, movido pela luxúria despertando-me a líbido adormecida, pelas leis a que me sobmetia ao estar num País de maioria Islâmica.Quando de repente sinto uma mão forte, sobre o ombro, girando-me como uma marioneta, dando-me tempo para ter consciencia do que me estava a acontecer, porque vejo uma boina vermelha de uniforme caqui, e uns olhos de ódio que sobressaíam entre a boina e o uniforme,e de seguida um empurrão que me leva ao chão, e um tremendo pontapé no ombro,enquanto rugia "KELAB MASSIHE","Cão Cristão" .Não senti dor, só senti raiva, mas dada a situação em que me encontrava só tinha todas de perder.
A minha reacção naquele momento foi de levantar-me e começar a correr para a porta de saída do bar,com um sentimento surdo de vergonha e raiva, conseguindo o meu intento,quando me percato que no átio principal, grupos de Árabes saídos do nada como cogumelos e gritando,tentando interceder a minha trajectória.Conseguindo evitá-los alcançei a porta principal do Aeroporto, dirijindo-me ao parque de estacionamento, em direcção ao meu carro,conseguindo assim um momento de segurança que havia perdido á escassos segundos.
Ofegando, já dentro do carro, olhei para a entrada principal do edifício, e noto uma calma aparente, pois não vía nem perseguidores, nem carrascos, e pensei, “isto não foi real,foi um pesadelo”.
Com o coração palpitando não era capaz de por o motor do carro a funcionar.
Conseguindo acalmar-me dirigi-me ao Campo onde contei o sucedido, recusando-me a voltar outra vez ao Aeroporto.
Mais tarde em companhia dos meus amigos, em tertúlia,cheguámos á conclusão, de que “HÁ MIRADAS QUE MATAM”

jueves, 12 de noviembre de 2009

SHUFTA KEIF??


Quantas vezes me teem dito que o tempo não voltava atrás.Não é verdade, pode-se sentir a sua presença e os seus odores, a maior parte das vezes involuntáriamente.
Há dias que sinto esse PASSADO,e quase que o posso abraçar.Agora por exemplo estou a sentir e abraçar-lo, para que não se desvaneça no meu espírito.
Era Maio de 1981,recén chegado á Líbia, capital, Trípolis ignorando o destino que me esperava.
Encontrava-me num Campo Português embevecido pelos odores que emanava aquela manha, recordando-me um passado recente, em que podia sentir cada esquina e cada rua da cidade em que havia passado a maior parte da minha vida e parecia-me ouvir as gargalhadas dos meus amigos, enquanto fazíamos das nossas e aí estava eu sentado sózinho debaixo de uma árvore que estava situada na entrada do Campo,mesmo em frente aos escritorios da empresa, a observar um camaleão (coisa que nao fazia á muito tempo). Ao meu lado havia três individuos negros e enquanto observava o camaleão, prestava atenção á conversa,quanto mais nao fosse á fonética,porque a única lingua que sabia,era o Português e o Inglês.Dei-me me conta que um deles, um sr de uns 40 anos (confirmou mais tarde que tinha 43 anos), quando finalizava uma frase dizia sempre algo como "shufta keif?",mas era sempre,e durante as 3 horas que estive ali sentado até ás 12h da manha.
Eu conhecendo-me como me conheço a uma determinada altura nao me pude conter,e pergunto-lhes se falavam Inglês,e a resposta é rápida e concisa,nao falavam Inglês.Fiquei decepcionado,e dou me conta que o Português e o Inglês não me serviriam de nada ali para aquele tipo de situações,e como estávamos na hora do almoço dirijime ao refeitório do Campo.Depois de comer voltei á árvore e vejo que se aproximavam um grupo de negros de numero mais elevado que o da manha,mas que tambem o integravam os mesmos que haviam estado sentados ao meu lado, e um deles um rapaz da minha idade,aproximou-se e perguntou-me em Inglês se necessitava de algo,o qual respondi que só queria satisfazer a minha curiosidade,explicando-lhe que eu também era Africano de nascimento e entablando conversação com o meu interlocutor que me servia de tradutor, foi apresentando os seus companheiros incluindo o "shufta keif", se não me recordo mal eles deveriam ser uns oito dos quais só um falava um idioma por mim conhecido,os outros sete só falavam Árabe.
Um deles o "shufta keif",disse então ao meu interlocutor, se eu queria aprender Árabe que me poderia ajudar,o qual assenti afirmativamente, nos dias que eu estivesse em Tripolis, digo Tripolis porque é o nome verdadeiro da Capital Líbia e para não confundir com Tripoli, que é uma cidade do Líbano.
Naquela tarde ja o meu novo e improvisado Professor de Árabe começou a dar-me lições, chamava-se Abdalla e tinha combatido na guerrilha ao lado do ex-presidente Nímeiri. As lições se basavam no quotidiano, como utensilios, saudações, determinados verbos, como pedir, dar, olhar, o normal.Durante os cinco dias que estive no Campo de manhã e de tarde encontrava-me com Abdalla e ele pacientemente dava respostas ás minhas perguntas e dúvidas.

Foi quando descobri o significado de "sufta keif", SHUF é o imperativo do verbo SHAFA que significa VER , e o sufixo TA é o que dá a forma ao Preterito Passado do verbo na segunda pessoa VISTE, e KEIF é o Comparativo COMO, ou seja SHUFTA KEIF significa "TU VISTE COMO?", o que para nós seria o mesmo como um PÁ, ou ESTÁS A VER, no final de cada frase.

Muito se aprende nesta Vida, SHUFTA KEIF???

sábado, 7 de noviembre de 2009

SONHO OU REALIDADE


Era uma quarta-feira, principios de Outono, quando me disseram que tinha de ir a Valladolid.Ao principio a noticia não me assentou nada bem, mas como era meu dever e não tinha mais remédio, aceitei o meu novo e temporário acometido.
Na quinta-feira ás 7:00 da manhã zarpei para Valladolid, em autocarro com transbordo em Ponferrada, por outro que iria para Valladolid, via León.
Durante a viagem tive tempo para madurar a situação,tomando como referência que iria conhecer algo novo,e e que poderia sacar partido da situação.
Quando cheguei, fui ao escritório da empresa para tomar contacto,de como seria a minha estadia em Valladolid.
No escritório deram-me a direcção do hostal onde me alojaria, alegando que estavamos na semana do Festival de Cinema de Valladolid,e deram-me um mapa com a localização do mesmo, e como a chefa de obra não viria até as 19:00 horas, resolvi ir ao hostal deixar a mala e também tomar contacto com o mesmo.
No hostal deparei-me com um sr. de uns 40 anos, com aspecto afável, que ao entrar me saúdou, e durante uns 15minutos, que foi o tempo necessário para as formalidades de registo, tentou sempre comunicar-se comigo em um Português claro, mas deficiente e forçado.Isso de entrada amenizou a minha fobia á nova e temporal estadia em uma cidade, habitada por seres humanos cuja cultura pouco ou nada conhecia.
De entrada e com a recepçao e hospitalidade do meu hosteleiro,pensei que as coisas seriam diferentes,ainda que teria de pernoitar naquele hostal,pois que para dar uma pequena ideia do que se me havia deparado darei uma descriçao do mesmo.Era um edificio antigo de arquitectura castelhana com muitas janelas exteriores e cada uma com varanda.A porta de entrada era composta por dois elementos de madeira maciça e pesadas, pois tinha de aplicar bastante força para abrir-las, seguido de um corredor amplio e alto que terminava á direita numas escadas com corrimão de madeira.O hostal estava ubicado no 1º piso.A recepção estava situada numa sala de estar, decorada ao estilo castellano,e via-se que era utilizada por crianças porque se viam brinquedos espalhados.As habitações eram pequenas e tambem decoradas da mesma maneira,e em cada uma delas havia um pequeño quarto de banho com ducha.Era como se tivessem comprado caixas- kits de banho no AKI e as colocassem ali onde coubessem.A partir desse dia passei a denominar o hostal com “A COISA”.
Ao sair de "A COISA" depois de toda a papelada resolvi ir outra vez ao escritório para receber instruções da minha chefa, e no caminho começei a sentir que estava ali, numa cidade de Castilla, na zona antiga de ruas estreitas, com edificios de 3 a 4 pisos de fachadas curiosas para mim, pois que nunca tinha visto nada igual tanto em Portugal como na Galiza,e começei a admirar a beleza desses edificios,das suas fachadas com aquelas belas varandas,ao estilo castellano e galerias térreas suportadas por colunas de pedra caliça.Nos cinco dias que estive ali a trabalhar na remodelação do projecto para a autovia A66,desfrutava depois das horas de trabalho dos passeios que dava, pela zona antiga,dos seus monumentos,da rica gastronomia que tive o previlégio de provar e da simpatia e hospitalidad dos Vallisoletanos,que em todo o momento sabiam utilizar a palabra “OBRIGADO”, e também de “A COISA”,pois era o meu cubículo de descanso.
Hoje aquí sentado penso nessa REALIDADE e parece-me que tudo foi um SONHO.